domingo, 30 de janeiro de 2011

carta da vizinha

Carta para a vizinha de cima a reclamar pelo barulho do sexo

Cara vizinha,

Primeiramente, gostaria de a felicitar pelo seu novo namorado.

Pelo som que sobrevêm do seu apartamento, e que se propaga pelos espaços amplos do edifício, calculo que «love is in the air» e fico muito contente por si.

Acontece que esses mesmos sons, como é habitual desde sempre, acontecem geralmente a partir da meia-noite e aumentam de intensidade sincronizada por volta das 3 ou 4 da madrugada.

Compreendo que seja solteira e queira aproveitar a vida da melhor forma, mas como deve entender a vizinhança por vezes quer descansar, pois o dia seguinte é um dia de”labuta”.

Não posso esquecer aquele seu antigo namorado, e que poucas vezes o vi sem ser na penumbra enganadora das escadas… mas, para uma pessoa requintada e com tendências românticas como a vizinha, um homem que responde a tudo com «Iá fofa», «Tásse bem», «Brutal» e outras expressões do mesmo género (pontuadas por subtis arrotos de cerveja) não era propriamente o protótipo do príncipe encantado que a sua alma feminina, impoluta e sensível tanto desejava...

Paralelamente, enquanto trabalhava as suas profundezas íntimas com o respectivo instrumento, ele expelia constantemente uns «Uhs» tão intensos, cacofónicos e possantes que mais parecia uma manifestação de pujança equídea em época de cobrição do que... enfim... uma demonstração de puro prazer lúbrico e deleite sensual derivados da sua adorável companhia que, entretanto, o ia acompanhando com «Ahs» tão agudos que teriam feito a Callas corar de inveja se a ouvisse. Já alguma vez pensou numa carreira lírica como soprano? Sempre poderia ensaiar durante os prazeres do coito…

Para além de tudo isto, essa relação foi bastante dispendiosa para a sua algibeira, uma vez que as molas centrais do seu colchão ficaram uma lástima… foi fácil de perceber isto porque fui notando que a distância entre os vossos arquejos e o meu tecto (isto é o seu chão) iam ganhando uma maior proximidade... sobretudo após o desmoronamento do estrado da sua cama, o qual aconteceu após o desfalecimento das respectivas pernas do lado da cabeceira, que não se aguentaram com tanto entusiasmo.

Ainda me recordo do dia em que tudo acabou entre vós com uma discussão ciclópica e ambos lamentavelmente perderam a oportunidade de publicar uma obra conjunta, do género: Dicionário de Português vernáculo ou Gramática portuguesa da linguagem singela ou ainda Novas perspectivas da linguagem coloquial em situações de crise. Independentemente do título, esta teria sido uma enorme e inestimável contribuição para o enriquecimento da nossa língua e garanto-lhe que teria um enorme sucesso nos meios académicos.

Por fim, e recordo com saudade o longo período de austeridade parcial, durante o qual quase nem necessitei de colocar tampões de silicone nos ouvidos para dormir.

Havia noites tão silenciosas que, por vezes, acordava perguntando-me se a vizinha finalmente estaria completamente morta, sufocada pelas velas aromáticas e paus de incenso com cheiros funerários, que entretanto passou a comprar, em doses suficientes para fazer uma limpeza cármica num raio de 30 km de distância.

Mas essa fase, todavia, nem sempre foi de abstinência total. A carne é fraca e a sua parece ter uma particular tendência para atrair todo o tipo de ufanias amorosas que a imaginação humana pode conceber.

Lembro-me do cozinheiro de culinária indiana e do cheiro a açafrão que vinha da sua casa cada vez que ele lhe preparava uma refeição… e do número sempre crescente de lençóis lavados no seu varal no dia a seguir...

Pelas actividades desenvolvidas entre ambos durante a noite eu (no meu silencioso e virginal recato) deduzia que a sobremesa era consumida «au-dessus de la peau». Para ser mais específica, eu imaginava-os aos dois nus, com as zonas erógenas pinceladas com melaço e adornadas com pedacinhos de Gulab cortados em meia lua… daí a profusão de lençóis e a água do chuveiro a correr demoradamente a horas tardias...

Por vezes, a essas sessões gastronómicas, juntava-se uma terceira (possivelmente também uma quarta) figura que eu nunca cheguei a perceber se eram homens ou mulheres. Na verdade, no meio de todos, quem mais se destacava era a vizinha que, nas alturas de máximo paroxismo derivado da manipulação lingual dos seus congéneres, soltava gemidos roucos semelhantes às fêmeas bovídeas quando se lhes extrai o leite.

E claro, não posso esquecer aquele nortenho com quem a vizinha costumava brincar as escondidas. Dados os vossos estertores e o número de molas do seu segundo colchão que ficaram partidas depois de noites e noites de encarniçamento.

Foi por ocasião do desbragamento total e incontrolável de uma das vossas brincadeiras que alguém (não me passa pelo pensamento quem teve semelhante ideia) chamou a polícia…

Tudo começou com uns arrulhos inocentes e gargalhadinhas intermináveis… o habitual…

Após uns momentos em que ambos pareciam compor a cena ouvia-se ele dizer:

- Donde está a minha obelinha deprabada?

- Méééé – respondia a vizinha do outro lado da casa, supondo eu que estavam às escuras para dar mais picante ao jogo do esconde esconde.

- Donde está a minha obelinha deprabada? – repetia ele, após ter esbarrado com vários móveis.

- Méééé – voltava a responder a vizinha, desta vez mais alto – estou aqui, meu pastor das terras de Bouro…

A vizinha e ele mantiveram este diálogo afrodisíaco durante uma série de tempo até que, finalmente, a ovelha e o pastor se encontraram e foi uma tal efusão beijos, rodopiar de móveis e palavrões ditos à moda nortenha (os quais o meu pudor e comedimento impedem de repetir neste local) que parecia que um rebanho inteiro em tropel tinha invadido as suas três assoalhadas ou que a profecia de 2012 começava a concretizar-se a partir desse local.

A polícia chegou enquanto a brincadeira permanecia no seu auge e os agentes, antes que alguém finalmente viesse abrir a porta, ainda tiveram a oportunidade de escutar, de olhos arregalados, os arrulhos de prazer gerados por tão original interacção da vossa parte.

Foi um momento verdadeiramente emocionante quando a vizinha foi abrir a porta aos agentes vestida apenas com um colete e umas botinhas em carneira, com o seu «pastor» de tanga e bordão atrás de si, ambos corados e de olhos esgazeados, como se tivessem acabado de acordar...

Eu teria ainda muito mais para partilhar, mas não a quero maçar mais.

Como vê, temos sido uns vizinhos massacrados pelas suas voluptuosas luxúrias extravagantes, que nos deliciam os ouvidos e nos despertam ( ou não !..) as vontades loucas de termos umas noites de amor com as nossas parceiras e adoradas esposas ,sem ficarmos com a sensação de termos mais alguém na cama a sussurrar-nos ao ouvido palavras e sons que de certa forma nos desassossegam.

Espero não ter sido muito indiscreto e que se tenha divertido com esta gloriosa partilha, mas peço mais uma vez , que modere as suas longas noites de prazer bem como a forma como as vive, pois não estou com muita vontade de ter que requisitar um estucador que me componha o teto do meu quarto depois deste me cair em cima .


Com os melhores cumprimentos e votos de felicidade

«O Visinho» do andar de baixo.


4 comentários:

  1. loooooooooooooooooooooool
    porque será que me faz lembrar algo!

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  2. Opahhhhhh!
    Eu sinceramente gostava que os meus vizinhos de cima tivessem desse sexo louco, porque pessoalmente eu adoro gente brega :-D
    Já a minha vizinha se queixa de mim e dos móveis a arrastar de madrugada e eu sem culpa no cartório.
    Já cheguei ao cúmulo de comprar uma caminha nova só para não ferir as susceptibilidades da minha querida vizinha de baixo :-P

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  3. Salsa :) então recebeste alguma carta também? lololol.

    Dinona Lol olha então eu nao tenho vizinhos nem em baixo nem por cima ...mas aqui nao se pode fazer barulho a partir das 22horas lol..

    Me myself and I lol pois alguns são... os meus são simpáticos :D

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